Especialidades – Dr. Isaac Ramos

Ceratocone

Os avanços em Cirurgia Refrativa determinaram benefícios para o diagnóstico e tratamento de doenças da córnea, destacando-se o ceratocone. Observa-se o crescente aumento do interesse nesta área, com congressos especificamente dedicados a este tema, como o Congresso Mundial de Ceratocone, organizado pela World Keratoconus Society que ocorreu em Ouro Preto (MG) em 2010 e o EuroKONE que ocorreu em Bordeaux em 2011.

A emergência desta nova sub-especialidade dentro da Oftalmologia é relativamente conhecida. Este especialista deve reunir habilidades relacionadas com Córnea e Cirurgia Refrativa, entretanto, é de fundamental importância orientar adequadamente os pacientes e os familiares. Não é incomum que a falta de explicações ao se passar o diagnóstico de ceratocone, ou apenas a suspeita com base em exame complementar, traga grande ansiedade para o paciente e sua família.

Ceratocone

O que é o ceratocone?

É uma alteração da córnea cuja superfície normalmente esférica, sofre um encurvamento na sua porção para-central inferior. A córnea então assume o formato de cone, causando distorção e embaçamento das imagens. Isto ocorre por afinamento e perda da rigidez na sua área central ou para-central. A alteração é progressiva, inicia-se geralmente na adolescência, afeta um pouco mais as mulheres do que os homens, e evolui geralmente até 30 ou 35 anos, quando há uma estabilização espontânea.

Quais são os sintomas?

O ceratocone é indolor, não causa vermelhidão, e é geralmente bilateral, podendo ter um olho mais avançado que o outro. O alerta é dado pelo embaçamento e distorção da visão. Em geral, aparecem também miopia e astigmatismo que aumentam constantemente levando a uma troca freqüente de óculos que deixam de fornecer uma visão adequada. Coceira nos olhos é frequente devido sua grande associação com alergia ocular. Apesar de o ceratocone poder levar a uma grande perda visual ele não leva a cegueira.

Como tratar o Ceratocone?

Prevenção: Infelizmente, não há maneiras de prevenir o surgimento do ceratocone. Até hoje não se sabe a causa precisa do mesmo, nem porque aparece na adolescência, ou porque estabiliza espontaneamente, mas fatores hereditários estão ligados a sua origem. O hábito de coçar os olhos deve ser evitado, pois pode contribuir para o aparecimento ou agravamento da doença, o que torna os indivíduos alérgicos mais susceptíveis.

Inicialmente devemos então investigar e tratar qualquer alergia ou inflamação ocular. O uso de lubrificantes também é importante pois não só melhora a qualidade da superfície ocular (ajudando a diminuir a inflamação) como também melhora a qualidade da óptica ocular. Outros tratamentos para otimizar a superfície da córnea, como o uso oral de óleo de linhaça ou vitamina C, e a colocação de plug de pontos lacrimais podem ser utilizados.

A partir daí devemos seguir duas linhas de tratamento, a primeira dedicada a melhorar a acuidade visual do paciente, e a segunda direcionada a estabilizar o ceratocone (parar a progressão).

1) Melhorando a acuidade visual:

Óculos e Lentes de Contato: 
Para ceratocones iniciais e com localização mais central o uso de óculos normalmente é suficiente para dar uma boa acuidade visual. Para casos onde o óculos não é suficiente a adaptação de lentes de contato é sem dúvida a melhor opção. Entretanto, apesar da grande evolução no material e desenho das lentes de contato, a adaptação em caso de ceratocone pode ser inviabilizada por intolerância por parte dos pacientes. Normalmente estes casos exigem o uso de lentes rígidas em olhos já previamente inflamados, o que dificulta bastante a adaptação. A grande vantagem da adaptação às lentes de contato rígidas é que esta, é de todas as opções, a que fornece melhor acuidade visual (mais até que as cirurgias).

Anel Intra-estromal:
Nos casos em que nem óculos nem lentes de contato permitem uma visão satisfatória, recorre-se ao tratamento cirúrgico. Neste caso o implante de anéis intra-corneanos para melhorar as irregularidades da superfície corneana é a primeira opção. Entretanto deve ficar claro que esta cirurgia não tem o objetivo de retirar o grau do paciente, e sim regularizar a córnea para que em seguida se possa usar óculos (ou lente de contato) com boa acuidade visual. Outra grande vantagem do implante do anel é que uma vez implantado conseguimos estabilizar o ceratocone em até 90% dos casos. O implante pode ser feito de forma manual ou a laser, sendo esta segunda opção a mais eficiente, mais segura e com melhores resultados. A forma como nós implantamos os anéis intra-estromal é com o laser de femtossegundo em 100% dos casos.

2) Estabilizando o Ceratocone:

Se após o exame clínico e a tomografia de córnea for detectado que o ceratocone está progredindo está indicado o tratamento cirúrgico para estabilizar o quadro. Caso haja indicação do anel para melhorar a visão, esta mesma cirurgia irá estabilizar o ceratocone na maioria dos casos (90%). Caso o anel não esteja indicado pois a acuidade visual do paciente é boa com óculos ou lente de contato, a opção é o Crosslinking.

O crosslinking consiste na aplicação de colírio de riboflavina (vitamina B2) na córnea durante alguns minutos seguida da aplicação de luz ultravioleta. Este procedimento aumenta as ligações de colágeno na córnea e consequentemente aumenta a sua resistência. Há boa probabilidade de controlar a progressão do ceratocone. Entretanto deve ficar claro que este tratamento não melhora a acuidade visual, apenas estabiliza o quadro.

Considerações:

Dependendo do caso estes procedimentos podem ser combinados em um mesmo paciente. Por exemplo, se o ceratocone continuar evoluindo após o implante do anel pode ser feito o crosslinking em seguida.

Caso o ceratocone esteja muito avançado e não seja possível nenhum desses procedimentos, aí então recorremos ao transplante de córnea. Até alguns anos atrás esta era a única alternativa para pacientes com ceratocone, hoje em dia os transplantes ficam reservados como última opção.

É importante ressaltar que após o transplante o paciente tem uma “vida nova” que requer cuidados especiais. E o fato de ter realizado o transplante não significa que a doença não possa ocorrer novamente.